quinta-feira, março 29, 2007

Eles são bons

Estava lendo PG Wodehouse agora a pouco e lembrando de como o Soares Silva escreve de um jeito parecido. (Diria que ele consegue ser até melhor, em alguns momentos.)

Por acaso, achei no meu banheiro hoje uma edição do Semana 3 e fui direto lá na coluna do ASS (Humilhados e Ofendidos). Só posso dizer que ele é muito bom.

Um trecho da coluna:

"Pessoas que dedicam blogs inteiros a sexo. Sexo é bom, ok, mas amendoim também é bom e eu não vejo blogs inteiros dedicados ao amendoim. “Ah, está comparando sexo com amendoim, é maluco”. Bom, amendoim é mais barato. Se você encontrar uma prostituta que cobre tão pouco quanto um saquinho de amendoim japonês Yoki, advirto-o que fuja, porque ela não só deve ser velha e feia como deve ter várias doenças impressionantes, incluindo dança de São Vito e radioatividade. “Se você faz essa comparação é porque não sabe” (atenção para o sotaque carioca, em que cada vogal é seguida pelas outras quatro – “e” se tornando “eaiou”, “a” se tornando “aeiou”, etc) “trepar” (uma palavra inventada por roteiristas de cinema nacional circa 1972).

Eu, não sei treaiuopaeiuor? Não, é você que não sabe comer amendoim. E quero ver você se divertir com a sua prostituta radioativa sentado no sofá enquanto vê “Notting Hill” do jeito que eu me divirto com um saquinho de amendoim sentado no sofá vendo “Notting Hill”. Assim que ela começar a se sacudir com os espasmos da epilepsia e o olho de vidro dela quicar na sua barriga você vai se arrepender de não ter gasto os seus R$3,10 num saquinho de amendoim, posso garantir. (Pessoalmente prefiro castanha de caju, mas estou saindo um pouco do assunto.)

Pode ser o melhor dos escritores, na hora de escrever sobre sexo escreve mal. John Updike, por exemplo; apesar de alguns livros ruins é um escritor muito bom, cuja habilidade foi elogiada por Nabokov. Mas, mas, mas. Estou vendo aqui uma passagem dele que concorreu ao Bad Sex Awards, aquele prêmio criado pelo filho de Evelyn Waugh, o jornalista e polemista Auberon, para “chamar atenção para o uso grosseiro, vulgar e freqüentemente perfunctório de passagens redundantes de descrição sexual no romance moderno, e desencorajá-lo”.

Updike começa falando muito bem sobre “seis ou oito corvos” que batem contra os galhos de um carvalho muito alto, o que faz com que o personagem, deitado na grama com uma mulher, sinta o coração acelerar. Achei esse trecho realmente bonito. Mas daí o personagem olha para baixo, e Updike esculhamba tudo. É impossível, digo-vos, escrever uma frase não-ridícula com as palavras “o meu pau” no meio – idem para “o pau dele”, claro, ou qualquer, aaagh, ugh, “pau” - mesmo sem os adjetivos “túrgido” ou “impávido” acompanhando. Quando for rico, oferecerei um milhão de reais para quem conseguir fazer algo do tipo sem me fazer soar o alarme (túrgido, túrgido) da vulgaridade.

E o ganhador do prêmio no ano passado foi Tom Wolfe, com um trecho em que, aparentemente, os dedos de um sujeito chamado Hoyt foram parar debaixo do elástico da calcinha de uma mulher que eu não sei o nome, “geme geme geme geme geme”, escreveu Tom Wolfe cinco vezes, “fez Hoyt enquanto ele deslizava deslizava deslizava deslizava”. Note que Wolfe só repetiu “deslizava” quatro vezes. Ah, nada é por acaso na arte da prosódia.

Existe uma proibição, sim, em relação a se falar sobre sexo, mas é uma proibição natural: para que ninguém falasse do assunto, Deus fez com que o sexo fosse ridículo."