quinta-feira, janeiro 25, 2007

Sonhos

Leio no excepcional “O mundo assombrado pelos demônios”, do Carl Sagan, que há um período na infância em que alguns sonhos são considerados reais e que as crianças tomam os acontecimentos desses sonhos como se fossem equivalentes às experiências reais. A partir daí passam a contar histórias fabulosas sobre monstros terríveis que se escondem debaixo da cama, extraterrestres abrindo a janela, amigos imaginários etc. – que vieram, obviamente, de seus sonhos. (Os sonhos, nem é preciso dizer, são fruto do que as crianças estão expostas no dia a dia – filmes, histórias, livros, convivência com família, educação etc.)

A distinção entre vida real e sonho (ou ilusão) é conquistada aos poucos, muito lentamente, até os dez anos de idade, mais ou menos. Após isso, uma pessoa normal consegue distinguir claramente as coisas. Menos, é claro, os desequilibrados – que continuam a pensar, vamos dizer assim, como crianças.

Sempre fiquei intrigado com o poder que crianças têm de ver ou fantasiar coisas. Quando era criança, não me lembro de ter passado por nada do tipo. Nenhuma visão. Nenhum monstro terrível. Que pena.

E um PS interessante: Sagan diz que parte dos motivos para as crianças terem medo do escuro e fantasiarem monstros etc. é porque, até pouco tempo, elas nunca dormiam sozinhas, mas sempre protegidas por um adulto. No nosso mundo, diz ele, "nós as enfiamos num quarto escuro, damos boa-noite e temos dificuldade em compreender por que elas às vezes ficam perturbadas". Num mundo mais primitivo, esse medo impede que crianças indefesas se aventurem longe dos seus pais. "Como esse mecanismo de segurança pode funcionar para um jovem animal forte e curioso senão pela produção artificial de um forte terror? Os que não têm medo de monstros tendem a não deixar descendentes."

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2 Comments:

Blogger Zé Ricardo M. disse...

Eu tendo a não deixar descendentes, tenho certeza. Embora ache legal quem coloca alguém na trilha.

27 janeiro, 2007 03:44  
Anonymous Anônimo disse...

É curioso relacionar estas informações com o fato de que, na porção mais inconsciente de nosso ser, ainda não conseguimos distinguir a realidade que imaginamos da realidade que enxergamos. Por isso nosso corpo responde com suores e batederias no coração a aquele pesadelo horrível.
É onde a ciência encontrou a explicação para a força do pensamento e das imaginações, já conhecida há milênios pelos orientais.
O que é realidade mesmo?
Vou procurar este livro. Valeu!

04 fevereiro, 2007 10:45  

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