domingo, dezembro 31, 2006

FHC na Folha

Tinha guardado esta entrevista do FHC, dada à “Folha” no último domingo 24 de dezembro, no meu desktop para fazer alguns comentários. Mas a preguiça é grande e segue abaixo apenas os melhores trechos (em negrito, os melhores dos melhores).

“O Lula disse o que sente sobre a própria trajetória: ficou mais perto do que ele chama de centro. Mas é curioso que o centro, para ele, seja o Delfim Netto.”

“Estamos de novo botando o carro antes dos bois. Qual é a proposta? Qual é a agenda? Não está claro. Sem isso, como é que se faz um acordo? Com cargos, com posições nos ministérios. Mas vai fazer o quê? Não se discutiu até agora. Discutiu-se uma vaga aspiração de 5% de crescimento na economia. Se você quer 5%, melhor querer logo 10%. Isso não é agenda. Isso é aspiração geral.”

“Durante anos o PT bateu na tecla de que a privatização era contra o interesse nacional e que houve “privataria”, bandalheira. Isso foi repetido, e não reagimos corretamente.”

“Continuamos funcionando na mentirinha, como se fosse possível ter, no mundo moderno, um Estado que se ocupe de tudo o que é investimento produtivo. Como se bom mesmo fosse o capitalismo estatal ou o socialismo estatizante. Esse modelo de Estado onipresente é ainda a ideologia média. As pessoas preferem o Estado ao mercado. Todos. No fundo, nossa ideologia básica, embora não explicitada, é que bom mesmo é uma sociedade igualitária, sem mercado, bancos, juros, onde só tenha Estado. É não-capitalista.”

“As pessoas preferem um capitalismo atrasado a um capitalismo avançado - e pensam que é por serem de esquerda. Não se dão conta de que a esquerda não está em jogo aí.”

“Tem que aumentar a produtividade. Crescimento é isso: investimento com aumento de produtividade. E essa produtividade tem que ser não só física, mas humana - e aí entra, por exemplo, a educação.”

“Sempre ganhei no primeiro turno, o Lula nunca. Mas o importante é que ganhou. Agora, ninguém sabe o que vai acontecer. O Lula teve mais sorte do que eu. Pegou um vento favorável. Eu peguei contra na situação internacional.”

“O governo da Venezuela se esgotou. O Chávez é conseqüência do esgotamento do sistema anterior, um sistema que não produziu resultados para o povo, que se desmoralizou. Na Argentina também. Houve, em larga medida, um cansaço. (...) Agora, raciocine pelo outro lado: qual é o país que conseguiu manter um modelo econômico de eficiência e melhorar a situação social? O Chile. A redução da pobreza lá é grande. A melhoria da educação é notável. Mas o Chile é assim fazendo reformas, mantendo uma coerência.”

“É curioso. Houve continuidade no setor econômico, apesar da retórica. É como se tivesse uma concertação por antagonismo. É uma questão política, outra vez. E aí o PT teve a virtude de convencer o país de que precisava mudar tudo. Não mudou nada, mas convenceu de que precisava mudar tudo. A política tem sua autonomia. Ela não depende só dos condicionantes econômicos e sociais.”

“Primeiro, simbolicamente, o fato de uma pessoa nordestina, pobre, de origem sindical ter chegado à Presidência. Isso é importante para o Brasil. Acho que esse lado simbólico é uma janela de democracia.”

(Lula é um democrata?) “Acho que, basicamente, sim. Mais ou menos. Ele não tem muita noção de certas coisas. Fez há pouco uma declaração agradecendo ao povo, que o elegeu “sem intermediários”. Essa não é uma frase democrática. Ele nem sabe que não é. Ele pensa que é genuíno, autêntico. Mas ele não é antidemocrático. Ele pode não saber certas coisas, mas não acho que ele seja uma personalidade anti-institucional, digamos assim.”